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de Janeiro

Working Paper nº 013 Agosto, 2006

Norma

Prof. Adrian Sgarbi Departamento de Direito

Publicado no Dicionário de Filosofia do Direito, Rio de Janeiro, Editora Renovar, 2006

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Norma

Adrian Sgarbi

Doutor em Direito pela USP. Professor de Direito Constitucional e Teoria do Direito da FDPUC-Rio

Sumário: 1. Generalidades. - 2. Atos normativos, disposições e normas. - 3. Normas de conduta, normas de estrutura e sanções. - 4. Composição formal das normas jurídicas. 5. - Normas e proposições jurídicas. - 6. Algumas predicações normativas.

1. Generalidades

A linguagem prescritiva faz parte dos usos lingüísticos cotidianos. Quando

dizemos para uma criança «Não coloque o dedo na tomada», ou mesmo quando

pontuamos «Faça o seu dever de casa», «Não pronuncie o nome de Deus em

vão» etc., o que estamos inserindo em nosso campo de comunicação são

prescrições. As prescrições funcionam, assim, como pautas para o

comportamento dos indivíduos, pois são afirmações acerca do que deve ser feito

nos diversos casos e situações da vida (Bobbio, 1993). É certo, contudo, que das

muitas prescrições pensáveis (morais, de trato social, costumeiras etc.),

destacam-se as prescrições jurídicas porque, independentemente do que pense

ou esteja a desejar o destinatário, quando emitidas, atuam não apenas como um

redutor de opções em suas variadas possibilidades de agir, mas também como um

redutor garantido institucionalmente pelo aparado burocrático estatal que detém o

monopólio do uso da força (CP, art. 345). Tal significa que além da seleção de

ações possíveis que origina, sobressai do conjunto normativo jurídico a presença

do aparato estatal e de suas técnicas de dissuasão. Daí poder dizer-se, em

acepção elementar, que “norma jurídica” corresponde a um enunciado prescritivo

que estabelece uma conseqüência (jurídica) quando da aparição de certas

circunstâncias («Se se verifica a situação típica “p”, então segue a conseqüência

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2. Atos normativos, disposições e normas

A palavra norma, e, propriamente, a expressão “norma jurídica”, apesar de

sua ampla difusão, não desfruta, seja na linguagem doutrinária, judicial ou mesmo

na linguagem do legislador, de univocidade designativa. Se por vezes há o

entendimento que uma norma corresponde a uma regra de comportamento que

determina o que se deve e o que não deve ser feito, outras vezes é utilizada como

sinônimo de certo texto ou documento legislativo, ou mesmo de parte desse texto

ou documento legislativo. Tal é perceptível nas seguintes frases: «Os cidadãos

têm o direito de se reunirem para fins pacíficos»; «A Constituição da República é

uma norma»; «O legislador produz normas»; «Leia a norma X do Código civil». O

problema desse uso despreocupado, ou mesmo ingênuo, é que ele corresponde a

indisfarçável baralhamento de idéias; baralhamento que, desgraçadamente, é

muito difundido e que consiste na identificação dos enunciados legislativos com os

significados desses enunciados, o que tem reforçado a impropriedade de

construções frasais como estas: «O juiz interpretou a norma», «Você não aplicou

adequadamente o artigo Y», e assim sucessivamente. Por outras palavras, o que

ocorre é uma confusão entre os suportes materiais, os signos gráficos de uma

língua natural, com o que tais signos exprimem ou significam.

Um enunciado é uma expressão lingüística, oral ou escrita, com forma

gramatical completa (Guastini, 1992). A completude do enunciado encontra-se

determinada pela gramática da língua em questão. Daí que quando se diz «O rato

roeu a roupa do rei de Roma», está-se diante de um enunciado completo, mas

quando nos deparamos com «..rato roeu...» e «..rei de...», não estamos mais

diante de um enunciado, mas de locuções ou sintagmas. Locuções ou sintagmas

são grupos de unidades lingüísticas (palavras) que, unidas, formam uma unidade

significativa. Por exemplo: se olho é verbo, “passo a olhar”, “continuo olhando”,

“volto a olhar” são locuções verbais. Se um enunciado é parte de um texto

normativo, o enunciado recebe o nome de dispositivo ou preceito legal (ou ainda,

mais especificamente, quando em uma constituição, de dispositivo constitucional).

Um dispositivo ou disposição é assim um enunciado do discurso legislativo (o que

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ou infraconstitucional, não pode ser compreendido como sinônimo de norma. E

isso porque não é nada além de enunciados contidos nos textos normativos ao

passo que as normas elas são o sentido desse texto ou textos, o resultado, enfim,

do seu processo interpretativo. Por isso que um texto normativo pode conter

muitas normas, nenhuma norma, ou uma única norma. Essa desassociação (falta

de correspondência biunívoca) é explicável como resultante de causas muito

diversas, ainda que seja recorrente citar-se o problema nomográfico da má

formulação do texto como a principal delas. Quanto a isso, podem-se tanto

mencionar as formulações incompreensíveis, como, também, as formulações

ambíguas e as formulações textuais redundantes. Há formulações

incompreensíveis quando os problemas gramaticais são de tamanha magnitude

que o texto nada significa; ambigüidade quando um único texto apresenta mais de

um sentido (como uma norma é o sentido de um texto, um mesmo texto expressa,

aqui, mais de uma norma); e redundância quando dois ou mais textos estão a

expressar uma mesma norma (há, pois, caráter significativo sinônimo nas

construções frasais). Mas não apenas por problemas de construção que se tem

comprovado a desassociação entre texto e norma (disposições sem norma (fig. 1),

disposições ambíguas (fig.2), e disposições redundantes (fig. 3)); é possível que

os intérpretes dos textos combinem as disposições formulando normas que as

disposições isoladas não têm como fornecer (fig. 4). Pensável é, também, a

situação em que muitos textos não expressem norma alguma por falta de outro

texto normativo que complete seu significado (fig. 5), pois não havendo significado

não há norma. Além disso, podem ser acrescentadas as hipóteses em que há

normas sem disposição normativa direta (fig. 6), tais como: os costumes jurídicos,

os princípios implícitos, e os resultados do emprego das técnicas de integração (a

simili ou analógico, a contrario, etc.) levadas a efeito pelo aplicador quando

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Com respeito à especificidade dos textos normativos, estes são decorrências

de atos normativos. Deve-se distinguir, por conseguinte, a atividade de produção

normativa das atividades interpretativas: uma consiste na criação dos textos

normativos; a outra na enucleação destes textos em normas. Os atos normativos,

assim, relacionados com a produção de textos, são os atos voluntários regulados

n o r m a t i v a m e n t e c o m v i s t a s à e l a b o r a ç ã o d e m a t e r i a i s j u r í d i c o s .

Paradigmaticamente, ditos atos normativos encontram sede no processo

legislativo (CF, art. 59 até 69). Desse modo, os atos normativos não podem ser

reduzidos ou identificados com seu resultado: atos normativos e textos normativos

são lógica e temporalmente distintos, pois há relação de precedência dos

primeiros em relação aos últimos. Atos normativos de produção normativa são

atos de criação de textos, são emissões de enunciados, não de normas. Por isso

que a atividade interpretativa, de modo elementar, consiste em realizar o

procedimento intelectual de atribuir ou adscrever significado a um ou mais

enunciados (normativos); e a norma, o seu resultado. Sendo assim, enquanto os

textos normativos (materiais jurídicos escritos) são “produtos do legislador”, as

normas são “adscrições dos intérpretes” e, em particular, dos juízes. Daí que não

se interpreta normas, mas se as aplica, demais de que não se aplicam os textos,

mas se os interpreta. Conclui-se assim que, da parte dos intérpretes, os textos

normativos encontram-se intocáveis sintaticamente já que a modificação textual

apenas pode ser processada pelos agentes competentes para a produção

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3. Normas de conduta, normas de estrutura e sanções

A idéia de que há certos agentes produtores de textos normativos parece

evidenciar que além das normas ditas de “conduta” deve haver normas que

habilitam ou que deferem esse poder de elaborar normas jurídicas a certas

pessoas. Portanto, caso sejam consideradas as referências normativas que

específica ordem jurídica pode apresentar, afigura-se claro que nem todas

cumprem a função de servirem de pautas para as condutas humanas. De tão

importante é esta percepção que, de uma anterior compreensão da juridicidade

centrada em critérios essencialistas (ser a norma sancionadora negativa, por

exemplo, como fez KELSEN), atualmente grande espaço é reservado para as

análises dos critérios de existência-pertencimento (que a norma N tenha sido

produzida pela autoridade normativa AN da ordem jurídica OJ no tempo t para o

âmbito espacial q).

Grosso modo, as normas de uma ordem jurídica ou bem são normas de

conduta (ou primárias), ou bem são normas de estrutura (ou secundárias). As

“normas de conduta” correspondem aos comandos de comportamento, i.e., aos

preceitos que geram obrigações, proibições e autorizações ou permissões. São

normas, por assim dizer, que instituem o “obrigatório” (Op), o “proibido” (Php), e o

“permitido” (Pp). Estar “obrigado”, ser “proibido”, e ter a “permissão” são

determinações para as condutas humanas (ou, como também se usa dizer: são

modais deônticos). Essas determinações cumprem a função, não apenas de

formarem marcos com vistas a obter comportamentos conformes, mas também

são padrões avaliativos concretos para os atos disformes. Já as normas de

estrutura formam um grupo muito variado de normas, tais como as normas de

racionalização da produção (normas de produção jurídica), interpretação (dos

textos normativos), de aplicação (das normas), de revogação (de textos

normativos e de normas), etc.

Às normas de conduta comumente são agregadas sanções jurídicas. Para a

cultura jurídica tradicional, “sanção” é o ato de força pelo qual o Estado, fazendo

uso de seu monopólio da violência regulada, castiga os sujeitos que tenham

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oposições, ao menos, podem ser feitas a essa forma de concebê-la: uma,

ontológica; outra, metodológica. A primeira oposição oposição ontológica

assenta-se no valor atribuído à sanção. Segundo essa corrente doutrinária, a

sanção não é essencial às normas jurídicas porque nem todas as normas que

comumente são consideradas jurídicas pelos teóricos do direito são normas

dotadas de sanção. Com efeito, afirmam os autores que assumem essa postura

que o modelo sancionador além de rígido é inconsistente. Pense-se nas definições

legislativas, nas normas de competência, nas normas que estabelecem

procedimentos, todas elas afrontam o modelo canônico das normas

sancionadoras, e chamá-las de normas não-autênticas, de fragmentos de normas,

ou mesmo de normas não-autônomas, pouco esclarece o papel que

desempenham nas ordens jurídicas. A segunda oposição oposição

metodológica tem por base outra estratégia; porque embora os teóricos que

assumem essa corrente não neguem de modo definitivo o critério da sanção,

ponderam que a técnica da sanção como punição não é a única técnica utilizada

funcionalmente pelo direito para reforçar o cumprimento das normas de conduta,

i.e., nem todas as sanções presentes nos ordenamentos jurídicos são sanções

negativas. Porque dizer que as sanções correspondem a certa técnica que as

ordens normativas dispõem para reforçar a observância e prevenir a inobservância

de suas próprias normas, não é o mesmo que dizer que esse reforço deve ser

necessariamente uma resposta negativa ou que implique em um prejuízo ao

praticante da falta ou seu responsável, pois com freqüência as ordens jurídicas

contemporâneas fazem uso das sanções positivas ou promocionais (Bobbio,

1977). Com isso, se é comum se pensar em um mal que se põe como resposta a

uma proibição que é violada, pode-se bem utilizar, noutro sentido, a técnica de

beneficiar àquele que age conforme ao preceituado, e esta é a essência das

sanções positivas. Tudo com vistas a manter a utilização concreta da ordem

jurídica com o fim de se evitar que ela mesma desapareça por falta de

repercussão fática. Nesses termos, considerando o critério do

pertencimento-existência, todo material jurídico produzido por um agente competente, possua ou

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4. Composição formal das normas jurídicas

É comum a afirmação de que as normas jurídicas são estruturas sintáticas de

composição condicional, o que significa que as normas são dotadas de um

antecedente e de um conseqüente. O antecedente ou termo condicionante, que

também é conhecido como prótase, é o enunciado que estabelece o condicional

“Se...”; o conseqüente ou termo condicionado, que também é chamado de

apódose, estabelece a implicação, no que sua configuração habitual consiste no

“...então...”. Assim a fórmula “Se A, então B”, corresponde ao fato e a

conseqüência imputada ao fato, a sanção. Por conseguinte, os sintagmas «”se”,

“então” ou a cópula lógica “e” ou “são”» correspondem ao dizer normativo

referencial de uma realidade dada e a conseqüência estatuída.

5. Normas e proposições normativas

É usual distinguir-se o direito (no sentido de direito ´objetivo´) das

formulações que se elabora acerca dele. Diz-se, assim, que o direito corresponde

a um conjunto de normas (prescrições) e que a ciência jurídica (as formulações

dos juristas) é composta por proposições normativas (descrições). A distinção tem

por base a situação de que os (item a) juristas quando lêem os materiais

normativos os descrevem ao passo que os legisladores, como os juízes,

prescrevem. Uma e outra camada discursiva não pode ser confundida, isso

porque a característica que as diferencia remete ao caráter funcional de

conhecimento dos juristas e a função essencialmente regulativa das normas

(Alchourrón-Bulygin, 1975). Nesse sentido, os dizeres «A norma N de OJ que

proíbe matar é válida» não está no mesmo patamar lingüístico que «Matar

alguém. Pena de 6 a 20 anos», pois exercem funções lingüísticas distintas; esta é

linguagem-objeto; aquela é uma metalinguagem. Aliás, (item b) porque os

enunciados descritivos não obrigam, não proíbem, não permitem e não facultam

nada, eles podem ser verdadeiros ou falsos; já as normas jurídicas obrigam,

proíbem, permitem; daí não haver como predicá-las de verdadeiras ou falsas,

apenas válidas ou inválidas, justas ou injustas, úteis ou inúteis. Entre normas e

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impossibilidade é conhecida como “Lei de Hume”: daquilo que é não se pode

deduzir um dever ser, ou seja, se digo «Os homens mentem» disso não se pode

deduzir que os homens devem ou não devem mentir. As distinções relevantes

entre normas e proposições são, com isso, de duas ordens: uma psíquica (a);

outra de propriedade (b).

6. Algumas predicações normativas

Validade e invalidade, justiça e injustiça, eficácia e ineficácia, são algumas

das predicações mais importantes quando o tema recortado envolve a

normatividade jurídica. E a razão para isso é simples: enquanto a validade remete

à idéia do direito como norma (o que constitui e o que constitui norma

adequadamente produzida em um dado conjunto de normas), a eficácia

corresponde à análise do direito como fato, e, a justiça, o direito como valor.

No campo jurídico o termo validade é utilizado em vários sentidos. Em um de

seus sentidos (o único que está a nos interessar aqui), entende-se que validade

consubstancia a idéia de uma relação normativa. Essa relação normativa é uma

relação de adequação. E é uma relação de adequação porque predica a inclusão

correta ou incorreta de normas a certo conjunto normativo, o conjunto normativo,

p.ex., CJ. Esses critérios podem ser tanto formais quanto materiais. Sendo assim,

tendo conhecimento de que critérios são esses, pode o operador do conjunto

normativo afirmar que «N é uma norma válida em CJ» dada a explicitação do

critério relacional R presente no próprio conjunto normativo. Esses critérios têm

sido designados de critérios (1) de legalidade; e (2) de inferência (Caracciolo,

1988).

Segundo (1) o critério de legalidade, uma norma N é válida no conjunto

normativo CJ se: (1.1.) Respeita as normas de estrutura, tais como: (a) normas

que atribuem a certos órgãos o poder de criar certa espécie normativa

(competência); (b) normas constitutivas das espécies admitidas segundo sua

função (Lei complementar, lei ordinária, medida provisória, etc.); (c) normas de

procedimento específicas para a espécie normativa cogitada (quorum, prazos,

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para a espécie); (e) normas que determinam quais devem ser os conteúdos da

legislação, seja determinando proibições, seja impondo um conteúdo determinado

(cláusulas pétreas, normas programáticas, etc.); e (1.2.) Não tenha sido (a)

revogada seja expressa seja tacitamente por uma norma válida de mesma

hierarquia ou por incompatibilidade com norma hierarquicamente superior; e (b)

não tenha sido anulada por um ato normativo que, por sua vez, também deve ser

válido como ato jurídico.

Conforme o (2) critério de dedução ou inferência, uma norma N é válida no

conjunto normativo CJ se é uma conseqüência lógica das normas válidas em CJ.

Atendido esse critério elementar, as normas jurídicas válidas se propagam.

Mas como se entende, dogmaticamente, que basta ser concluído o processo

de produção normativa para que a espécie normativa passe a existir, iniciando, por

conseguinte, a presunção de sua validade, deve-se pontuar que é plenamente

possível que uma norma inválida (uma norma que não atende plenamente os

critérios de validade formal e material) esteja sendo aplicada aos casos concretos,

razão pela qual se conclui que pensar no conjunto normativo como um conjunto

que é composto tão-somente por normas válidas dista muito da realidade jurídica.

Isso porque a existência de uma norma precede à sua validade (Pontes de

Miranda, 1970); e, para existir, basta à norma ser publicada.

Observe-se que, se os critérios de validade são critérios de fundamentação

(normativa), evidentemente que a norma que assenta esses critérios não pode ser

assim predicada (não pode ser válida ou inválida), mas observada ou não

observada. Por isso que para responder quando uma constituição é uma

constituição da comunidade C, basta responder que ela o é quando observada e

aplicada pelos órgãos constitucionais e, no todo, pela própria comunidade C: sua

existência é um problema empírico-político de estabilidade; estabilidade esta que

está relacionada, de modo elementar, com a manutenção da identidade do

exercício do poder que a caracteriza (Valdés, 1987).

Por outro lado, a predicação de validade é por vezes acentuada com a idéia

de obediência e, por extensão, de justiça, i.e., um critério que transcende a própria

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não raro, projetados como universais. Quando se fala em justiça, assim, está-se a

mencionar um plano diferente do jurídico positivo; deixa-se este para ingressar no

canal do modelo de moralidade ou dos juízos morais. Aliás, o positivismo jurídico

nega essa possibilidade externa de condicionamento e sustenta razões internas

de validade. Duas teses são dignas de destaque: a tese do formalismo jurídico; e

a do formalismo ético (Bobbio, 1991). Para o formalismo jurídico justiça e validade

são dois conceitos independentes, pois a validade de uma norma nada diz sobre

sua justiça (e, portanto, com sua obrigatoriedade moral); para o formalismo ético a

validade de uma norma é condição suficiente de justiça, daí a derivação da

obrigação de obediência (moral da norma positiva). Observe-se que quando se

assume a tese do formalismo jurídico as instâncias aplicabilidade (que é uma

questão técnico-jurídica) e aplicação (que é uma questão ética além de jurídica –

que pode, inclusive, ensejar resistência do operador) deixam de ser

necessariamente co-extensivas.

Por sua vez, o termo eficácia, como na frase «A norma N é eficaz», tem,

entre os juristas, oscilado, ao menos, entre duas acepções: uma, por assim dizer,

propriamente jurídica; outra, por assim dizer, propriamente sociológica ou

sociológico-jurídica (Navarro, 1990). Com a idéia de eficácia propriamente jurídica

a informação que se intenta transmitir com a acentuação da eficácia de N é que N

possui as condições de produzir efeitos jurídicos. Três são as designações mais

comuns: eficácia como gradação de suas repercussões em razão de sua

regulamentação ou não; eficácia como aplicabilidade; e eficácia como força

normativa. No primeiro caso, diz-se ser a eficácia graduada desde sua plena

eficácia até sua eventual contenção, sempre a relacionando com a idéia de sua

auto-suficiência ou não diante de outra norma; no segundo caso, diz-se ser eficaz

a norma que pode ser aplicada e ineficaz a que não pode ser aplicada (por

exemplo: quando impedida de surtir efeitos por reconhecimento de sua

ilegitimidade constitucional por órgão competente para tanto); no terceiro caso,

eficácia está sendo relacionada com a peculiar força que uma norma possui caso

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uma norma de hierarquia superior tem maior força jurídica que a inferior, com o

que não a afeta).

Conforme a acepção de eficácia como propriedade sociológico-jurídica, esta

designa não mais a capacidade de produzir efeitos jurídicos, mas a peculiar

condição de N estar motivando os destinatários. Daí que neste segundo uso de

eficácia ou bem pode estar designando o cumprimento de N (pelos seus

destinatários gerais) como a aplicação de N (pelos juizes, por exemplo, depois que

N é descumprida). No primeiro caso a repercussão social remete à idéia de

realização voluntária da norma N; no segundo caso, de sua realização forçada

com o Estado importo seu aparato institucionalizado ou, como se usa também

dizer, seu monopólio da força física. Interessa observar que tem aparecido na

literatura especializada o termo ´efetividade´ para indicar o que aqui se está

chamando de eficácia sociológico-jurídica; isso, nas suas duas configurações

destacadas. É freqüente também designar a eficácia jurídica de eficácia interna

(porque atinente a normatividade propriamente dita) e a efetividade de eficácia

externa (porque atinente às reverberações fáticas da norma, como ela repercute

entre seus destinatários sejam eles gerais, sejam eles membros da burocracia

estatal).

Observe-se, por último, que são independentes as adjetivações de validade,

justiça e eficácia. Por isso é possível encontrar normas: (1) válidas, ineficazes e

injustas; (2) válidas, ineficazes e justas; (3) válidas, eficazes e injustas; (4) válidas,

eficazes e justas; (5) inválidas, ineficazes e injustas; (6) inválidas, ineficazes e

justas; (7) inválidas, eficazes e injustas; e (8) inválidas, eficazes e justas. Todavia,

ainda aqui há a necessidade de se atentar para uma distinção: no plano interno de

certo conjunto normativo, e para o positivismo tradicional, os itens 5, 6, 7 e 8 não

retratam normas corretamente elaboradas; ao passo que para o jusnaturalismo os

itens 1, 3, 5 e 7 não configuram normas que devam ser observadas. Já sob a

análise externa do conjunto normativo, os itens 3, 4, 7 e 8 são cruciais, pois, em

que pese o fato de não ser o caso de se avaliar sua validade ou invalidade de uma

constituição (pois dita predicação não lhe cabe) pode-se distingui-la em eficiente

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marco de referência, em termos básicos, para toda e qualquer produção

normativa) e justa ou injusta (ou, se assim se quiser assimilar, noutra instância,

legítima ou ilegítima, uma questão de estar justificada aos olhos dos súditos contra

o império da nua imposição).

Bibliografia básica

ALCHOURRÓN, Carlos/BULYGIN, Eugenio. Introducción a la metodología de las

ciencias jurídicas y sociales. Buenos Aires: ASTREA, 1975.

BOBBIO, Norberto. Dalla struttura a la funzione (Nuovo studi di teoria del diritto).

Milano: Comunità, 1977.

BOBBIO, Norberto. El problema del positivismo jurídico. México: ITAM, 1991.

BOBBIO, Norberto. Teoria generale del diritto, Torino: G. Giappichelli Editore,

1993.

CARACCIOLO, Ricardo A. El sistema jurídico. Problemas actuales. Madrid: Centro

de Estudios Constitucionales, 1988.

GUASTINI, Riccardo. Dalle fonti alle norme. Torino: G. Giappichelli Editore, 1992.

KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

NAVARRO, Pablo Eugenio. La eficacia del derecho. Madrid: Centro de Estudios

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PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado, vol IV,

Rio de Janeiro, Borsoi, 1970.

VALDÉS, Ernesto Garzón. El concepto de estabilidad de los sistemas políticos.

Referensi

Garis besar

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