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ARTIGO
ORIGINAL
Doenc
¸a
hepática
autoimune
na
crianc
¸a
e
no
adolescente
-dificuldades
no
diagnóstico
Marta
Rios
a,∗,
Teresa
São
Simão
a,
José
Ramón
Vizcaíno
b,
Margarida
Medina
a,
Fernando
Pereira
ae
Ermelinda
Santos
Silva
aaUnidadedeGastrenterologiaPediátrica,CentroHospitalardoPorto,Porto,Portugal bServic¸odeAnatomiaPatológica,CentroHospitalardoPorto,Porto,Portugal
Recebidoa16desetembrode2011;aceitea9dejaneirode2012 DisponívelnaInterneta 28dejulhode2012
PALAVRAS-CHAVE Hepatiteautoimune; Colangite
esclerosante primária;
Síndromedeoverlap; Crianc¸a
Resumo
Introduc¸ão: Adoenc¸ahepáticaautoimune(DHAI)podeenvolverpredominantementeos hepa-tócitos ou o epitélio dos ductos biliares intra/extra-hepáticos, ou ambas as estruturas (simultaneamenteoudeformasequencial),denominando-se,respetivamente,hepatite autoi-mune(HAI),colangiteesclerosanteprimária(CEP)esíndromedeoverlap(SO).
Objetivo: ConhecerasdificuldadesdediagnósticodeDHAInumapopulac¸ãopediátrica. Métodos: Estudoretrospetivodoscasosseguidosnumhospitalpediátriconosúltimos19anos. Resultados: Foramincluídos20doentes(10M,10F):HAI-10,CEP-7,SO-3.Amedianadeidades àdatadeaparecimentodossintomasfoide9,0anoseàdatadediagnósticode11,5anos.Dos 10doentescomHAI,3tinhamscorepré-tratamentodediagnósticoprováveletodosscore pós-tratamentodediagnósticodefinitivo.Em1doenteapresenc¸adeds-DNAobrigouadiagnóstico diferencialcomlúpus.Dos7doentescomCEP,apenas2apresentavamanomaliasimagiológicas das viasbiliares e 4lesões histológicas ductulares. Trêsdoentes apresentaram critérios de diagnósticodeSO,umdeaparecimentosequencial.
Conclusões: AsmaioresdificuldadesforamencontradasnosdoentescomCEPemestadioinicial enosdoentescomSO,sobretudonocasodeapresentac¸ãosequencial.Destacam-setambém asdificuldadesemefetuarodiagnósticodiferencialentreHAIcomoentidadeindependentee outrasdoenc¸asautoimunesmultissistémicascomatingimentohepático,comoolúpus eritema-tososistémico.
©2011SociedadePortuguesadeGastrenterologia.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todosos direitosreservados.
Abreviaturas: Acs,anticorpos; AI,autoimune; AMA,anticorposantimitocondriais;ANA,anticorposantinucleares;ALT,alanina amino-transferase;anti-LC1, anti-citosolhepáticotipo 1;AST, aspartatoaminotransferase; AUDC,ácidoursodesoxicólico; ANCA’s,anticorpos anticitoplasmadosneutrófilos;BT,bilirrubinatotal;BD,bilirrubinadireta;CBP,cirrosebiliarprimária;CEP,colangiteesclerosante primá-ria;CMV,citomegalovírus;CPRE,colangiopancreatografiaretrógradaendoscópica;CU,coliteulcerosa;DII,doenc¸ainflamatóriaintestinal; DHAI,doenc¸ahepáticaautoimune;EBV,epstein-barrvírus;FA,fosfatasealcalina;GGT,gama-glutamil-transferase;HAI,hepatite autoi-mune;LES,lúpuseritematososistémico;PR3,anti-proteinase3;SO,síndromedeoverlap;SMA,anticorposanti-músculoliso;TC,tomografia computorizada.
∗Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:martariospinho@gmail.com(M.Rios).
KEYWORDS Autoimmune hepatitis;
Primarysclerosing cholangitis; Overlapsyndrome; Child
Autoimmuneliverdiseaseinchildrenandadolescents-difficultiesondiagnosis
Abstract
Introduction:Autoimmuneliverdisease(AILD)mayinvolvepredominantlythehepatocytesor theintra/extra-hepaticbileductepithelium,orbothstructures,namingrespectively, autoim-munehepatitis(AIH),primarysclerosingcholangitis(PSC),andoverlapsyndrome(OS). Aim:ToidentifythediagnosticdifficultiesofAILDinapaediatricpopulation.
Methods:Retrospectivestudyofthecasesfollowedinapediatrichospitalinthelast19years. Results:Included20patients(10M,10F):AIH-10,PSC-7,OS-3.Medianageatthetimeofonset ofsymptomswas9,0yearsandatthedateofdiagnosiswas11,5years.Ofthe10patientswith AIH,3hadapre-treatmentscoreofprobablediagnosis,andallhadapost-treatmentscoreof definitivediagnosis.In1patientthepresenceofdsDNAforcedthedifferentialdiagnosiswith lupus.Ofthe7patientswithPSC,only2hadabnormalitiesofthebiliarytractonimaging,and4 histologicallesionsintheducts.ThreepatientshaddiagnosticcriteriaforOS,1withsequencial presentation.
Conclusions:ThemajordiagnosticdifficultieswereencounteredinpatientswithPSCinearly stage,andincasesofOS,especiallytheoneofsequentialpresentation.Alsonoteworthyare thedifficultiesofthedifferentialdiagnosisbetweenHAIasanindependententityandother multisystemautoimmunediseaseswithliverinvolvement,suchassystemiclupus erythemato-sus.
©2011SociedadePortuguesadeGastrenterologia.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
A doenc¸a hepática autoimune (DHAI) é responsável por 2 a 5% dos casos de hepatopatia crónica na crianc¸a1,2. Resultadeintolerânciaimunológicacontraascélulas hepá-ticas, comevoluc¸ão parainflamac¸ão crónica e destruic¸ão progressiva3. Este processo pode envolver predominante-mente os hepatócitos ou o epitélio dos ductos biliares intra e/ou extra-hepáticos, denominando-se respetiva-mente hepatite autoimune (HAI) e colangite esclerosante primária (CEP)3---5; a cirrose biliar primária (CBP) nunca foidiagnosticada em idade pediátrica. Aspetos sugestivos deambas asdoenc¸as (HAI e CEP) podemestar presentes nomesmo doente,simultaneamentenaalturado diagnós-tico,ouemalturasdiferentesaolongodaevoluc¸ãodasua doenc¸a, designando-se nesse caso «síndrome de overlap» (SO)5---8.Naidadepediátricaéparticularmentefrequenteo overlapHAI-CEP.
Existem scores de diagnóstico de HAI validados para adultose que sãoaplicados na populac¸ãopediátrica1,9---11, masnãoexistemcritériosdediagnósticobemdefinidosde CEP1,4,6,7.Paraalémdasdificuldadesporvezesnotadasem afirmarodiagnóstico,adistinc¸ãoentreHAI,CEPeSOpode sermuitodifícil.
Na idade pediátrica há alguns estudos sobre HAI1,2,4,8,12---29, mas são mais raras as publicac¸ões sobre CEPeSO8,28---33.
Oobjetivodestetrabalhoéconhecerasdificuldadesde diagnósticodeDHAInumapopulac¸ãopediátrica.
Material
e
métodos
Estudoretrospetivobaseadonaconsultadosprocessos clí-nicosdas crianc¸as e adolescentes com DHAIseguidos nas
consultasdeHepatologiaedeGastrenterologiadeum hos-pital pediátrico, no período de janeiro de 1992 a 31 de dezembrode2010.
Parâmetros analisados: sexo, idade, aspetos clínicos, estudoslaboratoriais,imagiológicosehistológicoseresposta aotratamento.
O diagnóstico de HAI foi estabelecido segundo os cri-térios doGrupo Internacional paraEstudo daHAI (IAIHG), publicadosem19939erevistosem199910eem200811.
Em todos os doentes foi efetuado o seguinte estudo analítico: hemograma, bilirrubinas e enzimas hepáticas, proteinograma, imunoglobulinas e auto-anticorpos (auto-Acs), estudo da coagulac¸ão, serologias víricas (anti-HAV, AgHbs, anti-HCV,EBV,CMV), ␣-1-antitripsina e ceruloplas-minaséricasedoseamentodocobreurinário.
Foiefetuadabiópsiahepáticaemtodos,sendooexame histológico realizado pelo mesmo anatomopatologista, à excec¸ão dos casos 11 e 20 (biópsia realizada noutra instituic¸ãohospitalar).Apósodiagnóstico,todososdoentes com HAI e SO efetuaram tratamento com imunossupres-sores(prednisolona 2mg/kg/dia,máximo 60mg/dia, e/ou azatioprina 0,5-2,5mg/kg/dia) e todos com CEP e SO foram medicados com ácido ursodesoxicólico (AUDC) 15-20mg/kg/dia,em2tomas.
Resultados
Duranteesteperíodoforamdiagnosticados20casosdeDHAI: 10-HAI,7-CEPe3-SO.Cincodestescasosforam previa-mentepublicados(casos2,6,7,8e18)13,31.
Sexo,idadeeaspetosclínicos
18 Idade
HAI CEP SO
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1 2
Caso 3 4 5 6 7 8 9
HAI - 7,5 anos CEP - 10,0 anos
Idade início sintomas Idade diagnóstico
Mediana 11,5 anos HAI - 11,5 anos CEP - 11,0 anos Mediana 9,0 anos
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Figura1 Idadeàdatadeiníciodossintomaseàdatadodiagnóstico.
8
6
4
2
0
Início insidioso
Hepatite aguda
Sintomas de DII
Achado ocasional
3
3 3
2
1 2
1 5
CEP HAI SO
Figura2 Formadeapresentac¸ão.
Amedianadeidadesàdatadeaparecimentodos sinto-masfoide9,0anos (mínimo4,0 emáximo 16,0)eà data dodiagnóstico de11,5anos (mínimo 6,0e máximo 17,0), ouseja,cerca de2,5anos depoisdoinício da sintomato-logia---figura1.Verificou-sequenogrupodedoentes com HAI,amedianadeidadesàdatadeaparecimentodos sinto-masfoiinferior(7,5anos)emrelac¸ãoaosdoentescomCEP (10,0 anos) e que o diagnóstico foi efetuado mais tarde (mediana deidades:HAI- 11,5anos eCEP- 11,0anos)
---figura1.
Aformadeapresentac¸ãoclínicafoivariável---figura2. No grupo de crianc¸as/adolescentes com HAI, a doenc¸a manifestou-sesobaformadehepatiteagudaem5,eteve inícioinsidiosoem2(tempodeevoluc¸ãopré-diagnósticode 3anosnocaso2,ede15mesesnocaso5).Em2doenteso diagnósticofoiefetuadoapósdetec¸ãoacidentaldeelevac¸ão dastransaminases em análises efetuadas poroutros moti-vos:hematúriamicroscópica (caso 3)epielonefrite aguda (caso 7). No grupo de crianc¸as/adolescentes com CEP, o diagnóstico foiefetuado simultaneamente com o diagnós-ticodecoliteulcerosa(CU)em3doentes(casos11,13,15) e,emoutros3,adoenc¸ateveinícioinsidioso:dorabdominal intermitenteeanorexianumdoentecomCUjáconhecida
(caso12);dorabdominalesporádicae,4anosdepois, apa-recimentodeicterícia,pruridoecolúria(caso14);icterícia, prurido,asteniaeanorexiacomumanodeevoluc¸ão(caso 17).Numdoentedestegrupoodiagnósticofoiefetuadoapós detec¸ãodeelevac¸ãodastransaminasesemanálises realiza-dasparaestudodeobesidade(caso16).Nogrupodedoentes comSO,emtodosadoenc¸ateveinícioinsidioso:noprimeiro casomanifestou-seinicialmenteporamenorreiasecundária, nosegundocasoporpruridoenoterceirocasoporicterícia. Ossinais/sintomasmaisfrequentesforam hepatomega-lia,dorabdominal,icteríciaeastenia/mialgiasnãohavendo diferenc¸asentreos3subgruposdedoenc¸as,àexcec¸ãodo prurido que só se verificou nos casos de CEP e/ou SO
---figura3.
Hepatiteautoimune(Casos1a10---tabela1)
Nogrupode10crianc¸as/adolescentescomHAI, registaram-se3doentesdosexomasculino,nãocumprindooprimeiro critériodoscoredediagnóstico10.
Em 2crianc¸as/adolescentes foi detetadooutro tipode doenc¸adeetiologiaautoimune(AI):diagnósticosimultâneo deCU(caso1)ediagnósticopréviodetrombocitopeniaAI (caso10).
Outros
Prurido
Hipocratismo digital
Epistáxis
Esplenomegalia
Hepatomegalia
Emagrecimento
Anorexia
Astenia/mialgias
Febre
Vómitos
Colúria
Icterícia
Dor abdominal
0 2 4 6 8 10 12
HAI CEP SO Total
Figura3 Sinaisesintomasàdatadodiagnóstico.
Tabela1 CritériosdediagnósticovalidadosnosdoentescomHAI(casos1a10)
10casosdeHAI 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sexofeminino 0 +2 0 +2 +2 +2 +2 +2 0 +2
FA/ASTouALT +2 +2 0 +2 +2 +2 0 +2 +2 +2
↑IgG +3 +3 0 +2 +3 +3 +1 +3 0 +2
Autoanticorpos
ANA,SMA,LKM1 +3 +3 +3 +3 +3 +1 +3 +3 +2 +3
AMA -4
Marcadoreshepatitevíricanegativos +3 +3 +3 +3 +3 +3 +3 +3 +3 +3
Históriahepatotóxicosnegativa +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1
Consumodeálcool<25g/dia +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2
Histologiahepática
Hepatitedeinterface +3 +3 +3 +3 +3 +3 +3
Inf.linfoplasmocitário +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1 +1
Lesãoductosbiliares -3
Outrasdoenc¸asAI +2 0 0 0 0 0 0 0 0 +2
Outrosauto-anticorpos +2
pANCA PR3
0 0 +2
pANCA 0 dsDNA SSA
0 0 0 +2
LC1
HLADR3ouDR4+ NE NE NE NE NE NE NE NE NE NE
Respostaterapêutica +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2 +2
Recaídas +3 +3 +3 +3 +3 +3
Scorediagnóstico
Antesdotratamento
Score 21 13 13 21 17 18 16 17 13 21
P:>10---15,D:>15 D P P D D D D D P D
Apósotratamento
Score 26 18 18 23 22 20 18 22 18 23
P:>12-17,D:>17 D D D D D D D D D D
Figura 4 Características histológicas do caso 4 (hepatite autoimune).
Legenda:Infiltradolinfóide,esboc¸andoumpadrãonodularcom extensasimagensdeatividadenecroinflamatóriadeinterfacee intralobular.H&E40x.
aumapontuac¸ãonegativanoscoredediagnósticodeHAI10. Uma doente com ANA’s positivos, apresentava também dsDNA e SSA positivos (caso 5). Foram detetados outros tiposdeauto-acs:acanti-citoplasmadosneutrófilos(ANCA) em2doentes(20%),anti-citosolhepáticotipo1(anti-LC1) emumdoente(10%)eanti-proteinase3numdoente(10%). Em todas as crianc¸as/adolescentes foram excluídas outrascausasdedoenc¸ahepáticacrónica.
Verificou-se que todos os doentes apresentavam, pelo menos,umadascaracterísticashistológicastípicasdaHAI: hepatite deinterface em 7 e infiltrado linfoplasmocitário
em 9---figura4.Umdoente(caso 5)apresentavatambém
lesãodosductosbiliares.
Observou-seumaboarespostaaotratamento imunossu-pressor em todos os doentes, tendo-se verificado recaída apósasuareduc¸ãooususpensãoem6casos.
O somatóriodapontuac¸ãodecada critériode diagnós-ticocorrespondeuaumscoredediagnóstico definitivoem 7 doentes e provável em 3. Após avaliac¸ão da resposta terapêutica aos imunossupressores o score dediagnóstico tornou-sedefinitivoemtodososdoentes.
Colangiopatiaesclerosanteprimária(Casos11a17 ---tabela2)
Em relac¸ão aos 7 doentes com CEP, verificou-se que um eradosexofeminino.Quatro das7crianc¸as/adolescentes tinhamCUassociada(em3diagnosticadasimultaneamente enumadiagnosticada3anosantes).Umacrianc¸a apresen-tavaaindafenómenosdevasculite.
Em todos, detetou-se aumento da GGT e/ou FA, pelo menos3vezessuperioraolimitesuperiordonormal.AIgG estavaaumentadaem3doentes.Nogrupodedoentescom CEPdetetaram-seosseguintesauto-Acs:ANA-3(43%),SMA -5(71%),ANCA -2(29%)e anti-proteinase3-1(14%).Os valoresdas titulac¸õesvariaram entre 1/40e 1/320. Tam-bémneste grupo,numdoente osANA foramnegativosno
primeiroestudo analíticoe sóposteriormentepositivaram (caso15).
Emrelac¸ãoaosaspetosimagiológicos,observou-se ecta-siadaviabiliarprincipaloudasviasbiliaresintra-hepáticas em2doentes. Foirealizadacolangiografiaem pelomenos 4doentes(CPRE-2,colangioRM-2):numdoenteemquefoi tentadaaCPRE,nãofoiconseguidaacanulac¸ãobiliar, tendo-secomplicadodepancreatiteaguda(caso14);dosrestantes 3, apenas se verificaram sinais de colangite esclerosante numdoente.
Relativamente aos aspetos histológicos, verificou-se alterac¸ãodosductosbiliaresem4doentes(inflamac¸ão peri-ductularnos4eproliferac¸ãoductularem1)---figuras5e6. Em 3 observou-se também inflamac¸ão dos espac¸os-porta e/ou hepatite de interface --- figura 6. O relatório ana-tomopatológicode um dos doentes não estava disponível (caso15).
Emtodososdoentes comCEPverificou-semelhoria clí-nicaeanalíticaapós iniciaremtratamento comAUDC;em 4foiassociadaprednisolona,comausênciaderespostaem um.
SíndromedeoverlapHAI-CEP(Casos18a20
---tabela3)
Caso 18 - Nesta doente do sexo feminino, previamente publicada30,adoenc¸amanifestou-seaos13anospor ame-norreiasecundária,e,4mesesdepois,porastenia,mialgias, perdaponderal,colúria ehepatoesplenomegalia. Os estu-doscomplementaresrevelaramtransaminasesaumentadas, relac¸ão FA/transaminases <1,5, hipergamaglobulinemia, ANA 1/2560 e, 2 anos depois, ANCA 1/1280 e evidência histológicade hepatite de interface e de proliferac¸ão de neoductos.Verificou-serespostaparcialàterapêutica imu-nossupressora e ao AUDC. O score pré e pós-tratamento foiconcordantecomdiagnóstico definitivodeHAI.Porém, destacava-se elevac¸ão significativa da GGT, ausência de melhoria,apósotimizac¸ãodaterapêuticaimunossupressora e evidência ecográfica de ectasia das vias biliares intra-hepáticas. Seis meses depois, efetuou CPRE que mostrou imagenssugestivasdecolangiteesclerosante,confirmandoo diagnósticoconcomitantedeCEPe,porisso,deoverlap HAI-CEP.EstaCPREcomplicou-sedepancreatiteedecolangites derepetic¸ão.Anosmaistardee,jáapóstersidosubmetida atransplantehepático,foi-lhediagnosticadaCU.
Caso 19 - Doente do sexo masculino, com uma avó paternacomCBP,queapresentavapruridodesdeo1.◦ ano
Tabela2 CritériosdediagnósticoutilizadosnosdoentescomCEP(casos11a17)
11 12 13 14 15 16 17
Sexomasculino + + + + + +
D.inflamatóriaintestinal CU CU CU CU
Outrasdoenc¸asAI Vasculite
↑↑↑GGTe/ouFA + + + + + + +
↑IgG + + − ND + − −
Auto-anticorpos
ANA,SMA,LKM1 +1 +3 +1 ND +3 +3 −
ANCA +3 +3 −
Outrosauto-Acs PR3 −
Imagiologia
Ecografia/TC---ectasiadasviasbiliares + − − + − − −
Colangiografia---colangiteesclerosante NE ND NE
CPRE + −
ColangioRM − −
Histologiahepática
Lesãodosductosbiliares − − ND
Inflamac¸ão-linfócitos + +
Proliferac¸ão + +
Fibrose +
Inflamac¸ãoespac¸oporta − − + − ND + +
Respostaaotratamento
Ácidoursodesoxicólico + + + + + + +
Imunossupressão − + + NE + NE NE
CU:coliteulcerosa;ND:nãodisponível;NE:nãoexecutado;(−):negativo;(+):positivo.
Figuras5e6 Característicashistológicasdocaso13(colangiteesclerosanteprimária).
Legenda:Espac¸osportacominfiltradolinfóidepredominantementeperiductal(A.H&E400x),atrofiadoepitélioductalefibrose periductal(B.Reticulina400x),conferindoaspetoem«cascadecebola».
Tabela3 CritériosdediagnósticoutilizadosnosdoentescomSO(casos18a20)
Apresentac¸ão 18 19 20
Simultânea Sequencial Simultânea
1.◦diagnóstico
CEP
2.◦diagnóstico
HAI
Sexo F M F
Doenc¸asAI Coliteulcerosa (posterior-mente)
Avócomcirrose biliarprimária
TiroiditeAI
Transaminases(>3xN) + + ++ +
↑↑↑GGTe/ouFA + ++ + +
↑IgG + − + −
Auto-anticorpos
ANA,SMA,LKM1 + + + +
ANCA +
(posterior-mente)
− − −
Imagiologia
Ecografia/TC--- ectasiadasviasbiliares + − −
Colangiografia--- colangiteesclerosante + NE ↓canais intra−hepáticos de1.a
e2.aordem
Histologiahepática
Hepatitedeinterface + − + +
Lesãodosductosbiliares + + + −
Respostaaotratamento
Imunossupressão +/− − + −
Ácidoursodesoxicólico +/− + − +
F:feminino;M:masculino,NE:nãoexecutado;(−):negativo;(+):positivo;(+/−):respostaparcial.
apenas tratamento com AUDC. Aos 15 anos de idade verificou-seumamaiorelevac¸ãodas enzimashepáticase, um ano mais tarde, aparecimento de icterícia e agrava-mento do prurido, com o seguinte estudo analítico: BT 3,34mg/dL, BD 2,96mg/dL, AST 194 UI/L, ALT 543 UI/L, GGT310UI/L,hipergamaglobulinemia,ANAeSMApositivos e ANCAnegativo. Nestaaltura,ahistologia hepática mos-travaatividadenecroinflamatóriadeinterfaceeintralobular
focal---figura7.Porcumprircritériosdediagnóstico defini-tivo de HAI (score pré-tratamento 16) iniciou tratamento imunossupressor,destavezcomrespostafrancamente favo-rável.Este caso foi classificadocomo overlap HAI-CEP de apresentac¸ãosequencial(CEPseguidadeHAI).
Caso20-Doentedosexofemininoqueteveumprimeiro episódiodeicteríciacolestática,semprurido,aos12anosde idade(BT10,2mg/dL,BD4,0mg/dL,AST117UI/L,ALT119
Figura7 Característicashistológicasdocaso19(síndromedeoverlap).
UI/L,GGT185UI/L).Nestaaltura,foiconfirmadoo diagnós-ticodesíndromedeGilbertporestudomolecular.Aicterícia diminuiu,passandoaser apenasdebilirrubinalivre(BT < 5mg/dL) e asenzimashepáticasnormalizaram. Doisanos maistardetevenovoepisódiodeicteríciacolestática,com enzimashepáticas elevadas e foi notada esplenomegalia, confirmadaporecografiaabdominal,quemostroutambém umfígadoheterogéneo.Destacava-seapresenc¸ade trom-bocitopeniaeANA,SMAe Acsantitiroideuspositivos,com IgGnormal.O doseamentode␣-1-antitripsinae a cerulo-plasmina séricas foram normais, tal como o doseamento enzimáticoparaasdoenc¸asdeGaucheredeNiemann-Pick tipoC. A histologia hepática reveloufibrose dos espac¸os-porta, hepatite de interface, atividade necroinflamatória lobular e intensa colestase hepatocanalicular. Foi tratada com prednisolona, sem melhoria significativa, pelo que foi suspensa. A CPRE mostrou vias biliares intra e extra-hepáticascommorfologianormal,mascomalgumapobreza doscanaisintra-hepáticosde2.ae3.aordem.Iniciou
trata-mentocomAUDC,registando-senormalizac¸ãodasenzimas hepáticasedabilirrubinaconjugada.Estadoentecumpria critérios dediagnóstico de HAI, mas nãorespondeu favo-ravelmenteàprednisolona. Poroutro lado,haviaalgumas alterac¸õessugestivasdeCEP(elevac¸ãodaGGT,pobrezade canaisintra-hepáticosde2.ae3.aordemnaCPRE)ehouve
respostaao tratamento colerético. Apesar de atualmente ter enzimashepáticas normais, foi associada azatioprina, porcumprircritériosdediagnósticodefinitivodeHAI(score 17).
Discussão
Sexo,idadeeaspetosclínicos
Embora a ocorrência de patologia AI predomine no sexo feminino, nesta série 10 (50%) das crianc¸as/adolescentes eram do sexomasculino, a maior parte com CEP (6) e 1 comSO.Oenvolvimentodasviasbiliaresocorresobretudo nosexomasculino5,6,34(86%nestaamostra),aocontrárioda HAIqueémaisfrequentenosexofeminino1,4,14 (70%nesta amostra).
Apesarde,namaiorpartedoscasos,adoenc¸ase mani-festarnaadolescência,osprimeirossintomasocorreramem idadeescolarem7doentese,emidadepré-escolar,em2.
Verificou-se que houve um intervalo relativamente grande(2,5anos)entreamedianadeidadesàdatadoinício dasintomatologiaeàdatadodiagnóstico.Estadiferenc¸afoi particularmenteevidenteem4doentes(casos2,9,14e19) ---figura1.Nestesdoentes(umdelesresidenteemS.Tomé ePríncipe)houveumatrasonareferenciac¸ãoparacentros terciários,peloque sesalienta aimportância do conheci-mentodestapatologiaedaorientac¸ãodestesdoentespara centroscomexperiência.
Oscasosde HAI manifestaram-secomo hepatite aguda emmetadedosdoentes, talcomonoutros estudos1,2,4,8,14, sendo um aspeto facilitador do diagnóstico. Salienta-se o caráter indolente e insidioso de alguns casos de DHAI (8 no total da amostra), também verificado em outras séries1,13,19,27,28,sobretudonogrupodedoentescomCEPe SO(CEP-3,SO-3),oquepodeatrasaravalorizac¸ãodossinais esintomase,consequentemente,odiagnóstico.
Destacam-se os 3 casos, cujo diagnóstico foi efetuado de forma acidental, e os 4 casos em que o diagnóstico foi efetu-adonasequênciadoestudodesintomassugestivosdeDII, patologiaassociadaa estetipodedoenc¸ahepática, parti-cularmenteaCEP,comoobservadoem4dos7casosdeCEP (57%)edescritoem80%doscasosna literatura6.É funda-mental valorizarosantecedentes pessoais e familiaresdo doente,sobretudonoquedizrespeitoàocorrênciadeoutras doenc¸as AIs, tais como DII, tiroidite AI, trombocitopenia AIedoenc¸acelíaca1,3,4,6,17,34.Apercentagemrelativamente baixadeoutrasdoenc¸asAIverificadanaamostraestudada (8/20, 40%) deveu-se provavelmente ao facto de não ter sido efetuado doseamento de Acs antitiroideus e rastreio dedoenc¸acelíacaemtodososdoentes.
Estudolaboratorial
A anomalia bioquímica mais vezes associada a HAI é a elevac¸ão das transaminases (3 a 50 vezes superior ao normal)1,4,6,13,comoobservadoemtodososcasos.Emalguns doentes,podeocorrertambémelevac¸ãoligeiradaFA4---6,29, comoseobservounoscasos3e7.Arelac¸ãoentreovalor da FA e a AST ou ALT inferior a 1,5 é um dos critérios de diagnóstico de HAI10, mas que não severificou nestes 2doentes.
Aelevac¸ãodaFAeGGT éaanomaliamaisconsistente comodiagnósticodeCEP4---6,14,35,comoseverificouemtodos os casos deCEP. Numa faseprecoce da doenc¸a, e sobre-tudo em idade pediátrica, o valor destas enzimas pode, contudo,estarnormal30,34.As transaminasesestão ligeira-menteaumentadasnamaioriadoscasos(em3dos7casos deCEPdestaamostra),maspodematingirvalorestãoaltos como50vezessuperioraonormal6,30.
AIgGestáaumentadaem60-80%doscasosdeDHAI2,4,6. Apesardeestaalterac¸ãosercaracterística,osvalores nor-maisnãoexcluemo diagnóstico1,2,4,6,14,como seobservou em,pelomenos,30%(6/20)daamostraestudada.
UmaoutracaracterísticadaDHAIéadetec¸ãodeauto-Acs circulantesque reagemcontracertasproteínasnucleares, citoplasmáticasemembranares1,4,6,14.Osmaisimportantes são os ANA, SMA e anti-LKM1. Há outro tipo de auto-Acsidentificadosmaisrecentemente,tambémimportantes: anti-citosol hepático tipo 1 (anti-LC1), mais comum em doentes mais jovens e o único que parece relacionar-se com a atividade da doenc¸a; anti-citoplasmados neutrófi-los(ANCA);antigéniosolúveldofígado(SLA);anti-fígadoe pâncreas(anti-LP)4.Atitulac¸ãodestesúltimosAcsnãofoi efetuadanosdoentesmaisantigosdaamostraestudada.A presenc¸ade AMA étípica daCBP1,4,5,35, maspodeocorrer ematé5%doscasosdeHAI1,36,comoseobservounocaso2, correspondendoa10%doscasosdeHAInestasérie.
Érarohavercrianc¸as saudáveiscomauto-Acspositivos. Qualquer valor/titulac¸ãosuperior a 1/20 para ANA e SMA e 1/10 paraanti-LKM-1nestegrupo etárioé clinicamente relevante.1,3,4,14. Na amostra estudada foram observados apenasvaloressuperioresa1/40.
Emboraaidentificac¸ãodestesauto-Acssejaumdadode extrema importânciapara o diagnósticode DHAI,nãosão específicosdadoenc¸a,nãoserelacionamcomograude ati-vidadedamesma(àexcec¸ãodoanti-LC1)eosníveispodem variaraolongodasuaevoluc¸ão1,2,13,36---38,comoseverificou em2casosemqueodoseamentodeANAeranegativonum primeiroestudo,tendosidopositivoposteriormente.
Imagiologia
Aecografiaabdominalpoderevelarsinaissugestivosde cir-rose e/ou de hipertensão portal, e dilatac¸ão dos ductos biliares intraou extra-hepáticos nos casosde CEP4,35.Em até50%doscasosnãosãodetetadasquaisqueranomalias, oqueacontecesobretudo numafaseprecocedadoenc¸a4. Nogrupoestudado,verificou-seectasiadasviasbiliaresem apenas3doentes(2comCEPeumcomSO)---tabela4.
O melhor exame para identificac¸ão de CEP é a colangiografia3,14,34,35. A colangioRM é a técnica que deve ser utilizada, por se tratar de um método não invasivo que permite a visualizac¸ão e caracterizac¸ão dos ductos biliares intrahepáticos de 3.a e 4.a ordem. A CPRE está
atualmenteemdesusopeloriscodecomplicac¸õescomo pan-creatite aguda e colangite4,35, observadas em 2 doentes. A imagem típica da CEP inclui irregularidade dos duc-tosintrae/ouextra-hepáticos,dilatac¸õessacularesfocais, aumentododiâmetrodocanalbiliarcomum4,35.Na amos-tra estudada, foi efetuada colangiografia em 6 doentes (4 com CEP e em 2 com SO). Foram efetuadas 4 CPRE e 2 ColangioRM (exames mais recentes), tendo-se dete-tadosinaissugestivosdecolangiteesclerosanteemapenas 3casos.Dos3 doentescom colangiografianormal,apenas umapresentavalesãoductularnoexamehistológico.Estes 3 casos correspondem provavelmente a CEP de pequenos ductos.
Histologiahepática
O diagnóstico de HAI implica sempre realizac¸ão de bióp-siahepática4,6.Apesardehavercaracterísticashistológicas típicas desta patologia (como hepatite de interface e inflamac¸ão portal --- figura 4), estas não são específicas dadoenc¸a, podendoocorrer noutrotipode hepatopatia6. Outrosaspectoshistológicos,comooenvolvimentodos duc-tos biliares (ductopenia, colangite), podem ocorrer em 24-31% das crianc¸as com HAI6,30, como observado em um doente.
Emboraoexamehistológicosejadispensávelparao diag-nósticodeCEPdegrandesductosquando háevidência de alterac¸õescolangiográficas,noscasosdeCEPdepequenos ductos é necessária realizac¸ão de biópsia6,34,35. Os aspe-tos histológicos mais típicos de CEP incluem inflamac¸ão dos espac¸os porta com infiltrado de linfócitos nos duc-tos biliares, proliferac¸ão e/ou fibrose ductular5,6,8,34,35
---figuras 5 e 6. Em 2 doentes (29%) com CEP e em 1 com
SOnãosedetetaram alterac¸õesductulares noexame his-tológico,oquepodeacontecersobretudonumafaseinicial dadoenc¸a4---6,30. Além disso, nos doentes com CEP podem serobservadascaraterísticashistológicasmaissugestivasde HAI,comohepatitedeinterface6,34,35-figura6.
Respostaterapêutica
Aevidênciademelhoriaclínica elaboratorial,após trata-mento comcorticóides, é umdos critérios dediagnóstico deHAI10,39epermitiuafirmarodiagnósticodefinitivodeHAI nos3doentescujodiagnósticopré-tratamento eraapenas provável.
Nos casos de CEP, verifica-se uma melhor resposta ao tratamento com AUDC8, embora em alguns casos tam-bémocorramelhoria com tratamento imunossupressor5---7. Dos 7 casos de CEP, foi efetuado tratamento imunos-supressor em 4, não tendo havido resposta em um, e todos efetuaram depois tratamento com AUDC, com boa resposta.
NoscasosdeSOotipoderespostaàterapêutica (imu-nossupressãoouAUDC),ouumaalterac¸ãodessarespostaao longoda evoluc¸ão da doenc¸a (caso 19) contribuiu para a suspeitadeoverlap.
Diagnósticodiferencialcomoutraspatologias
É necessária a exclusão de outras causas de hepato-patia crónica, tais como esteatohepatite não-alcoólica, défice de ␣-1-antitripsina, doenc¸a de Wilson, infec¸ões víricas, álcool e outros tóxicos10. Em todos os doen-tes a exclusão destas patologias foi possível e de fácil execuc¸ão.
Tabela4 Resumodascaracterísticasdos3gruposdedoentescomDHAI
HAI(n=10) CEP(n=7) SO(n=3)
Medianadeidades
Iníciodossintomas 7,5anos 10,0anos 13anos
Diagnóstico 11,5anos 11,0anos 14anos
Sexo
Feminino 7 1 2
Masculino 3 6 1
Formadeapresentac¸ão
Hepatiteaguda 5 0 0
Inícioinsidioso 2 3 3
SintomasdeDII 1 3 0
Achadoocasional 2 1 0
Outrasdoenc¸asautoimunes 2 4 1
Históriafamiliardedoenc¸asautoimunes 3 0 2
Transaminases(>3xN) 10 3 3
GGTouFA(>3xN) 2 7 3
↑IgG 8 4 1
Auto-anticorpos
ANA 8 3 3
SMA 7 5 0
Anti-LKM-1 1 0 0
AMA 1 0 0
ANCA 2 2 0
Outros 3 1 1
Imagiologia
Ecografia---ectasiadasviasbiliares 0 2 1
Colangiografia
colangiteesclerosante 0 1 1
paucidadedecanaisbiliaresintra-hepáticos 0 0 1
Biópsiahepática
Infiltradolinfoplasmocitário/hepatitedeinterface 10 3 3
Lesõesdosductosbiliares 1 4 2
Respostaterapêutica
Imunossupressão 10 3 2
Ácidoursodesoxicólico - 7 3
DiagnósticodiferencialentreHAI,CEPouSO
Apartilhadecaracterísticasclínicase laboratoriais seme-lhantestornamadistinc¸ãoentreHAIeCEPporvezesdifícil ---tabela4.Existem,noentanto,algunsaspetosmais suges-tivosde CEPquepodemfacilitar estadiferenciac¸ão: sexo masculino,antecedentesdeDII,presenc¸adeprurido,curso dadoenc¸amaisindolente,elevac¸ãopreferencialdaGGTe FA,alterac¸õesdosductosbiliaresnacolangioRMenoexame histológicoemelhoriaclínicaelaboratorialapóstratamento comAUCD---tabela 4.Cerca de45%dascrianc¸as comCEP têmDIIassociada,comparativamentecomcercade20%das quetêmHAIclássica4.Naamostraestudada,estadiferenc¸a foiligeiramentemaior(CEP--- 57%,HAI --- 10%). Otipode auto-Acs detetados nos 2 tipos de DHAI é semelhante. A excec¸ãopareceserfeitanoquedizrespeitoaosANCAque predominamnoscasosdeCEP(74para56%)4,7,30,35.Na amos-traestudada, estadiferenc¸a foiinferior(29 para20%).As
alterac¸õesductularesnoexamehistológicosãomais carac-terísticasdaCEP,maspodemocorrertambémnasformasde HAIepodemestarausentesemalgunscasosdeCEP35,como observadonaamostraestudada.
exemplifica esta situac¸ão. O IAIHG sugere que os doen-tes com DHAI devem ser classificados em HAI ou CEP, de acordo com o tipo de características que predominam, e que a SO não deve ser considerada como uma entidade independente6.
Conclusões
As maiores dificuldadesde diagnóstico foramencontradas nos doentes portadores de CEP com doenc¸a em esta-dio inicial, pela ausência de alterac¸ões imagiológicas no colangiograma e pela evidência de anomalias histológi-cas inespecíficas. Destacam-se as dificuldades colocadas pelos casos de SO, sobretudo aqueles com apresentac¸ão sequencial.Salientam-se aindaasdificuldadesem efetuar odiagnósticodiferencialentreHAIcomoentidade indepen-denteeoutrasdoenc¸asAImultissistémicascomatingimento hepático,comooLES.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
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